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10-05-2025        Jornal de Notícias

Foi divulgado, na passada terça-feira, o Relatório de 2025 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), “Uma Questão de Escolha: Pessoas e Possibilidades na era da Inteligência Artificial”. O seu conteúdo transporta-nos para reflexões bastante importantes em tempo de eleições.

O liberalismo económico tende a aumentar a riqueza de alguns, poucos, à custa do empobrecimento da maioria dos cidadãos. O crescimento económico sem justa distribuição é depauperamento dos mais frágeis e agravamento de desigualdades. A inteligência artificial (e outros instrumentos vindos dos avanços científico e tecnológico) tem, como refere o relatório, “potencial para o desenvolvimento” e poderá contribuir “para a criação de muito emprego”, mas só quando a sua aplicação tiver no “centro o ser humano” e não a maximização do lucro de quem dela se apodera.

As conclusões do relatório são muito preocupantes: i) estamos perante uma enorme desaceleração na evolução do desenvolvimento humano; ii) a regressão acontece numa escala global, e sem precedentes, que nos coloca em ritmos de mudança de 1990; iii) agravou-se a brecha entre países ricos e países pobres; iv) se os resultados de 2024 passarem a “novo normal” as metas de combate à pobreza estabelecidas pela ONU para 2030, serão “adiadas por décadas”; v) teremos “um Mundo menos seguro, mais dividido e mais vulnerável a choques económicos e ecológicos”; vi) a inteligência artificial (até agora) surge formatada para utilização por parte (privilegiada) dos cidadãos que vivem em países ricos e usam a língua inglesa, e não para servir os países pobres.

As instituições internacionais que nos vêm impondo o liberalismo económico, como o Banco Mundial e suas “extensões”, agem em favor dos países ricos e do grande poder económico e financeiro, com total desinteresse pela proteção dos trabalhadores, dos mais desfavorecidos e até das classes médias. Pertencem ao sistema da Organização das Nações Unidas, tal como o PNUD, ou a Organização Internacional do Trabalho que procura promover a dignidade do trabalho.

Só que, enquanto a primeira não tem tido falta de financiadores e as suas orientações são tomadas como leis universais, as segundas lutam, muitas vezes, pela sobrevivência e as suas recomendações são secundarizadas ou combatidas – e não é só Trump que o faz. Esta é uma das verdadeiras expressões da crise da ONU, mas também de instituições europeias e nacionais do mundo do trabalho, e do Estado social.

Para aferição do desenvolvimento humano o PIB per capita é considerado, mas acompanhado de uma bateria de outros indicadores onde entram, nomeadamente, os níveis de educação e os fatores mais sensíveis para a esperança de vida e para condições mínimas de dignidade. Precisamos de forças sociais e políticas que se comprometam a dar um passo em frente na luta contra o abismo do retrocesso social.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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