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04-05-2025        Jornal de Notícias

A propósito do lugar e valor do trabalho na economia e na sociedade, de significados da solidariedade e da caridade, ou ainda quando abordei tópicos relativos a grandes questões políticas, convoquei para este espaço pensamento e propostas do Papa Francisco, um ser humano maior no tempo nebuloso que estamos a viver. Na sua homilia no dia 1.º de Maio de 2020 – para os católicos também Dia de S. José Operário –, Francisco afirmou: “Toda a injustiça que se faz a uma pessoa que trabalha espezinha a dignidade humana; inclusive a dignidade daquele que comete a injustiça”.

A morte de Francisco suscitou uma imensidão de declarações de simpatia, de exaltação da sua dimensão humana, do seu pensamento e da sua obra. Tal facto é um importante sinal de esperança, mesmo que muitos desses pronunciamentos sejam hipócritas. Os que assim agem fazem-no na busca de legitimidade para continuarem a negar Francisco, mas ao mesmo tempo reconhecem que os ideais com que os cidadãos se identificam (os que têm futuro) são os de Francisco e não os deles.

No início do capítulo V, “A política melhor” da Encíclica Fratelli Tutti, Francisco escreveu: “O desprezo pelos vulneráveis pode esconder-se em formas populistas que, demagogicamente, se servem deles para os seus fins, ou em formas liberais ao serviço dos interesses económicos dos poderosos. Em ambos os casos, é palpável a dificuldade de pensar num mundo aberto onde haja lugar para todos, que inclua os mais frágeis e respeite as diferentes culturas”. Sim. Os perigos de a nossa sociedade sofrer violentos retrocessos vêm, por um lado, do populismo da extrema-direita que nega relações humanas e sociais harmonizadas num espaço para todos e a própria democracia, mas por outro lado, dos imperativos daquilo que ele designa de “Dogma de fé neoliberal”.

O individualismo neoliberal coloca o futuro como uma construção de todos contra todos, nega as diferenças imanentes da estratificação social e do lugar de classe de cada ser humano, coloca os interesses dos privilegiados sempre a salvo, impõe o poder unilateral do patrão como base dos sistemas de relações de trabalho.

Neste 1.º de Maio há, pois, que reforçar a luta contra a pobreza, a precariedade, as discriminações, os baixos salários e os longos horários de trabalho, e pelo acesso à habitação. Mas, há também que trabalhar respostas às políticas designadas de nacionalistas, associadas à guerra comercial em curso. Ao longo da sua história, os sindicatos foram capazes de defender e praticar a solidariedade internacional e de agirem com eficácia no plano nacional. É essa tarefa que lhes é de novo reforçadamente colocada.

Na busca de caminhos para “uma política melhor”, Francisco diz-nos que “A grande questão é o trabalho”. No quadro da campanha eleitoral em curso, forcemos respostas concretas das forças políticas a este desafio.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
francusco    trabalho    neoliberalismo