Já que a “fúria da energia verde” tem tanta vontade de abater árvores, porque não começar por eucaliptos e acácias? Seria solução para controlar espécies invasoras, reduzindo danos à biodiversidade.
Há poucos dias, li uma notícia revoltante: em Condeixa, Coimbra, 1070 sobreiros serão abatidos para a construção de uma central fotovoltaica. O projeto da Anadia Green, avaliado em 18 milhões de euros, recebeu aprovação da Ministra do Ambiente e do Secretário de Estado das Florestas – um dia antes da queda do Governo. A empresa afirma que compensará o impacto ambiental com a plantação de 7400 árvores a 170 km de distância, em Marvão, no distrito de Portalegre.
Essa lógica de "compensação" não é nova. A mesma estratégia foi usada pela Metro Mondego quando derrubou metade das árvores centenárias em Coimbra. Mas todos sabemos que árvores com décadas ou séculos de vida não podem ser substituídas no curto ou médio prazo. Não se repõe um ecossistema consolidado simplesmente plantando novas mudas, assim como não se substitui um professor experiente por um recém-nascido. Os sobreiros que serão abatidos são reservatórios de carbono e têm copas robustas que capturam grandes quantidades de CO₂. Além disso, proporcionam sombra, sustentam a biodiversidade, enriquecem o solo e ajudam a reter água. A ideia de que esse impacto pode ser compensado é um engodo. Esse tipo de política apenas desvia a atenção da crise climática e dos danos ambientais causados pelo modelo económico vigente.
Nos últimos anos, temos visto esse ciclo repetir-se: sob o discurso da sustentabilidade, milhões de árvores são derrubadas, biodiversidade é destruída e paisagens naturais são substituídas por vastas áreas de aço, plástico e torres metálicas. O que antes eram planícies e montanhas verdes tornam-se terrenos áridos e cinzentos. A contradição entre discurso e realidade nunca foi tão evidente. O que a literatura académica chama de colonialismo verde, ou imperialismo verde, manifesta-se, na prática, como a destruição do meio ambiente em nome de uma suposta sustentabilidade.
Isso não significa negar os impactos das energias fósseis ou a urgência da transição energética. No entanto, o que vemos hoje não é uma verdadeira substituição de fontes poluentes por renováveis, mas uma expansão energética: a produção de energia – fóssil e renovável – continua a aumentar e, com ela, a destruição ambiental. Após três décadas de políticas de transição, as emissões globais de gases de efeito estufa não diminuíram significativamente.
Em Portugal, esse modelo predatório se faz sentir nos últimos anos. As comunidades locais de Covas do Barroso sofrem há anos com a ameaça das minas de lítio, que continuam a ser projetadas para a região. Os moradores veem até suas propriedades invadidas pela investidora especulativa Savannah Resources. Outras comunidades, como as de Montalegre e de Argemela, na Serra da Estrela, também veem suas serras, campos e cursos fluviais ameaçados por projetos mineiros.
Esperamos que, em Condeixa, assim como têm feito os barrosenses e as comunidades locais e autarquias em Montalegre, a população se organize, pressione o governo local e impeça que esse projeto seja implementado.
No entanto, é urgente uma mudança política que altere a direção geral dos acontecimentos. O meio ambiente português já está sob enorme pressão devido à seca e aos incêndios florestais – intensificados pela monocultura mortífera de eucaliptos, incentivada durante décadas pela indústria do papel. Apesar das tragédias mortíferas de Pedrógão Grande e Vilarinho, em 2017, os verdadeiros responsáveis – a indústria do papel e os responsáveis pela gestão do território – continuam impunes.
Atualmente, os eucaliptais já ocupam mais de um quarto do território florestal português, sem sequer mencionar outras espécies invasoras, como as acácias e as extensas manchas de pinheiros, plantadas durante as políticas florestais do salazarismo, que ameaçam a biodiversidade, degradam os solos e aumentam o risco de incêndios. Não podemos aceitar que a pequena área remanescente de floresta nativa – composta por sobreiros, azinheiras, carvalhos, castanheiros, choupos e salgueiros – seja destruída em nome das energias renováveis ou de projetos de mobilidade verde.
Nesse sentido, deixo uma sugestão: já que a "fúria da energia verde" tem tanta vontade de abater árvores, porque não começar pelos eucaliptos e acácias? Poderia ser proposta uma lei que obrigasse a implementação de projetos de energias renováveis em áreas predominantemente ocupadas por eucaliptais – preferencialmente em terrenos já ardidos. Seria uma solução para controlar e reduzir essa espécie invasora, ajudando a minimizar os danos à biodiversidade.
Além disso, os painéis solares seriam instalados em paisagens já degradadas e desertificadas pelos eucaliptos, evitando a destruição de áreas ecologicamente valiosas. A fragmentação das manchas contínuas de eucaliptos através da instalação de centrais fotovoltaicas poderia também criar corredores ecológicos mais seguros.
Esse modelo permitiria investimentos no interior do país sem agravar ainda mais a destruição ambiental e poderia até incentivar uma gestão florestal mais responsável. Talvez a instalação de infraestruturas energéticas em territórios vulneráveis a incêndios motivasse investimentos na prevenção e no combate aos fogos, protegendo as populações que, ano após ano, sofrem com esta ameaça.