Centro de Estudos Sociais
sala de imprensa do CES
RSS Canal CES
twitter CES
facebook CES
youtube CES
08-03-2025        Jornal de Notícias

A discussão e votação da moção de confiança apresentada pelo Governo ao Parlamento, na próxima terça-feira, propiciará, por certo, uma observação mais completa sobre os contornos da crise política em que o país foi mergulhado. Talvez se fiquem a conhecer melhor: a sustentação da narrativa de vitimização de Luís Montenegro e se há honorabilidades que se sobrepõem às regras e procedimentos democráticos; o perigo de o cidadão comum entender que “é tudo politiquice”, o que pode conduzir a que os resultados das eleições se voltem contra a própria democracia. Vamos observar, também, se o presidente da República continua a fazer de conta que estamos numa crise apenas conjuntural, quando existem vozes a sentenciar o fim do regime democrático.

Aguardando essas clarificações, e tendo por adquirido que vai ser preciso um combate duro para que na campanha eleitoral estejam presentes os problemas das pessoas e a forma como cada força política se propõe resolvê-los ou agravá-los, foquemo-nos, por hoje, no que se passa na União Europeia (UE).

Na organização das múltiplas reuniões e cimeiras das últimas semanas e nas decisões e orientações que delas emanaram, são evidentes contradições e becos em que estamos a ser metidos. Temos lideranças políticas fracas e desfasadas das dinâmicas da nova arrumação do Mundo, nos principais países europeus. Macron em França está internamente sem credibilidade, movimenta-se principalmente para disfarçar essa fragilidade. Starmer tenta, por vezes de forma ridícula, ressuscitar a Inglaterra Imperial. Merz, chanceler de um país em depressão e em retrocesso económico, move-se à procura de solução de governação interna, não possibilita, ainda, vermos o rumo que a Alemanha tomará.

Os burocratas que lideram as instituições europeias objetivamente não lideram quase nada. Vivem numa bolha - que dificilmente sobreviverá às mudanças em curso - com comportamentos inconsequentes que os descredibilizam (e à UE) no plano internacional e desbaratam valores e compromissos que tinham por objetivo harmonizar as sociedades no progresso. As forças ultraconservadoras e fascistas, entretanto, estão fortes. Neste contexto, o esclarecimento das pessoas e a mobilização da sociedade serão determinantes. A campanha eleitoral não pode passar ao lado destes temas.

A decisão anunciada por Von der Leyen de mobilizar 800 mil milhões de euros para investir na defesa é, simultaneamente, de uma enorme dimensão e preocupação e um mero anúncio propagandístico, pela falta de indicação de como se fará, a quem servirá e contra quem nos mobilizamos. A União Europeia surge-nos como uma Armada de 27 navios e naviozinhos, com bússolas pouco sincronizadas, no meio de uma enorme tempestade, e com o comando em boias de salvação.

Precisamos de movimentos sociais e políticos que ajudem na construção de solidariedade entre os povos, que rechacem aventuras e lutem por princípios e valores de progresso.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
movimentos sociais    UE    política