Centro de Estudos Sociais
sala de imprensa do CES
RSS Canal CES
facebook CES
youtube CES
10-11-2025        Expresso

Depois de poças de sangue terem sido vistas do espaço, na sequência da chacina em El Fasher, no Sudão, os analistas Miguel Monjardino e Teresa Almeida Cravo debruçam-se sobre a situação humanitária, a credibilidade das forças em confronto e os interesses geopolíticos na região.

El Fasher, no Darfur esteve sob cerco durante aproximadamente 550 dias antes da sua queda para as Forças de Apoio Rápido (RSF), que combatem as Forças Armadas Sudanesas. Durante o período de cerco, os habitantes da cidade enfrentaram condições extremamente difíceis. Após a captura daquele baluarte, as RSF lançaram uma campanha de chacina com alvos étnicos e políticos, semelhante à que realizaram em Geneina no verão de 2023. A violência dessa campanha em El Fasher marca um momento de escalada. Esta era a última grande cidade do Darfur que não estava sob o controlo das RSF, e muitos tinham fugido para lá de outras partes do Darfur.

O cerco de El Fasher não incluiu qualquer rota segura para os civis e, desde a queda da cidade, as pessoas têm-se deslocado a pé para Tawila, sem garantias de segurança, expostas à violência. Neste episódio de “O Mundo a Seus Pés”, Miguel Monjardino, professor de Relações Internacionais no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica e analista em Geopolítica e Geoestratégia, e Teresa Almeida Cravo, professora de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigadora no Centro de Estudos Sociais, na área da paz e dos conflitos, explicam a guerra contrarrevolucionária, que eclodiu em 2023 em resposta à campanha de quase cinco anos de ativistas que clamavam por um governo civil. Em vez de conceder qualquer poder aos civis, o aparelho de segurança virou-se contra si próprio e optou por prosseguir uma guerra que está a devastar o país.

Os dois investigadores notam que é particularmente importante não discutir esta guerra como se os grupos armados fossem os dois únicos lados do conflito. Nos últimos dias, as RSF resolveram aceitar uma trégua apoiada pelos Estados Unidos, que os analistas encaram como consistente com o objetivo político da milícia: consolidar os ganhos territoriais e utilizá-los como alavanca para obter ganhos políticos, quer através do controlo de alguma forma de Estado separatista, quer no contexto de um único Estado. Isto torna aumenta as probabilidades de os combates continuarem, mas há protagonistas regionais e internacionais que também disputam interesses geopolíticos num dos maiores países de África. O Sudão é um dos países mais pobres do mundo, mas tem grandes reservas de ouro para explorar.

Este episódio é conduzido pela jornalista Catarina Maldonado Vasconcelos, cabendo a edição técnica a João Luís Amorim




 
 
pessoas
Teresa Almeida Cravo



 
temas
sudão    África    guerra    darfur