A apresentação realizada por José Dari Krein partiu da hipótese de que as manifestações são expressão de movimentos contraditórios e das tensões sociais geradas - em uma sociedade extremamente complexa - pelos encaminhamentos políticos e econômicos do Brasil recente, dentro de um contexto mais geral de mal estar diante da grande transformação do capitalismo contemporâneo, de crescente insatisfação social, de descrença na política e nas instituições de representação de interesses. A exposição mostrou como, entre outros aspetos: 1) o desenvolvimento criou tensões com grupos sociais de trabalhadores, indígenas, ambientalistas etc...; 2) o crescimento econômico gerou integração no consumo de um grande contingente de pessoas, mas não foi acompanhado de uma melhoria dos serviços públicos;  3) as políticas de inclusão social e distributivas encontram resistências de segmentos privilegiados de uma sociedade em que a elite social sempre esteve de costas para o povo; 4) a geração de emprego também veio acompanhada por contradições em que grande parte dos postos de trabalho são precários; 5) a reforma política não foi viabilizada, e os esquema tradicionais de governabilidade foram mantidos; 6) os jovens buscam protagonismo político. Essas contradições ocorrem em uma sociedade cuja mídia, extremamente concentrada, tem um claro posicionamento neoliberal e força decisiva na disputa política sobre os rumos do país. Por isso, as manifestações foram difusas, polissêmicas e até contraditórios, manifestando diferentes interesses e perspetivas de organização social.

Manuel Carvalho da Silva, na qualidade de comentador da sessão, concordou com a abordagem, destacando que as manifestações expressam as tensões sociais e políticas provocadas pelas transformações recentes na sociedade portuguesa, onde por sinal desponta uma assimétrica distribuição da riqueza. Entre outros pontos, aludiu ainda ao facto de no contexto português ser também evidente uma institucionalidade em disputa e sinais de falhanço da social democracia.