Aimé Mpane nasceu em Kinshasa, no Congo, em 1968, onde viveu até aos 24 anos. O seu pai era o reputado escultor congolês Placide Mpane, cuja carteira de clientes ia desde o governo de Mobutu e a igreja católica no Congo, a colecionadores europeus e turistas que começavam a visitar o país. A tradição da escultura em madeira foi apenas um dos muitos ensinamentos que Placide legou ao seu filho.
Estávamos em meados dos anos 1990 quando Aimé deixa o país e vai viver para a Bélgica. Aí, confronta-se com o racismo e o preconceito, e a invisibilização das artes oriundas do continente africano. Decide-se então por uma abordagem que, não obstante ter um pé nas artes contemporâneas europeias, faz explícita vinculação à África negra, questionando o estatuto subalterno deste universo artístico.
Artista visual e curador, hoje a vida de Aimé Mpane divide-se entre Bruxelas e Kinshasa. Uma identidade que deambula – talvez pudéssemos descrever assim a matriz plural em que se sustenta o artista. Não será por acaso que António Pinto Ribeiro o identifica como “o artista da relação”, que cria pontes entre o passado e o presente, entre a Europa e África, entre o individual e o coletivo. Mas ninguém melhor do que o próprio Aimé Mpane para nos contar o que significa, de facto, para ele, navegar entre duas culturas e dois espaços geográficos e afetivos distintos. Ouçamo-lo no 17º episódio do “Em Memória da Memória”.
A realização é de Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes e a imagem gráfica de Márcio de Carvalho. A dobragem da voz de Aimé Mpane é de Júlio Gomes. Indicativo: voz de Rui Cruzeiro e música original da autoria de XEXA.
Algumas sugestões de leitura:
Bluard, Christine; Verbergt, Bruno (2021), “O AfricaMuseum e os Artistas Contemporâneos: da necessidade de abrir coleções e arquivos à criação artística”, in Europa Oxalá - Ensaios. Porto: Afrontamento, 111-122.
Conink, François de (2021), “Aimé Mpane”, in Europa Oxalá – Catálogo. Porto: Afrontamento, 30-31.
Ribeiro, António Pinto (2021), “Aimé Mpane, o artista da relação”, in Novo Mundo. Arte contemporânea no tempo da pós-memória. Porto: Afrontamento, 171-185.