Em memória da memória, hoje sentamo-nos com Verónica Leite e Castro.
Verónica Leite e Castro é natural de Luanda, capital de Angola, onde nasceu em 1959. O seu pai era português e emigrou para Angola, onde dirigiu um estabelecimento comercial. Aí, viria a conhecer a mãe de Verónica, mulher angolana, nascida na província do Uíge, filha de pai português branco e de mãe negra bacongo do norte de Angola. Verónica Leite e Castro cresceu numa família de mulheres, tendo conhecido o pai apenas aos 16 anos, depois de vir viver para Portugal.
As circunstâncias de ter crescido com uma história familiar profundamente intrincada com o colonialismo e com as relações de poder e de violência racista, sexista e de classe que ele produz impactaram a sua vida posterior.
Quando se deu a revolução do 25 de abril de 1974, que pôs fim à ditadura em Portugal, ainda residia em Angola. No ano seguinte, veio viver para Portugal. Explica que não é retornada, que a sua história é diferente. Olhando para o caminho percorrido em termos de memória pública do colonialismo em Portugal, Verónica Leite e Castro destaca o modo como as heranças coloniais ainda moldam de forma determinante a sociedade portuguesa.
A realização é de Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes e a imagem gráfica de Márcio de Carvalho. Indicativo: voz de Rui Cruzeiro e música original da autoria de XEXA.
Algumas sugestões de leitura:
Ribeiro, Margarida Calafate; Cruz Rodrigues, Fátima (2022), Des-Cobrir a Europa - Filhos de Impérios e Pós-memórias Europeias. Porto: Afrontamento.
Santos, Hélia (2021), Traits de mémoires entre oublis: récits de deuxième génération à propos de la fin du colonialisme en Angola, in Graça dos Santos, José Manuel Esteves, Lina Iglesias, Gonçalo Plácido Cordeiro (org.), Voir/ Revoir - Revenir sur les traces, définir le présent : la péninsule Ibérique après les dictatures. Paris: Presses universitaires de Paris Nanterre, 63-80.
Medeiros, Paulo (2020), "Memórias Pós-imperiais: Luuanda, de José Luandino Vieira e Luanda, Lisboa, Paraíso, de Djaimilia Pereira de Almeida", Revista Língua-lugar: Literatura, História e Estudos Culturais, 1, 136-149.
Rodrigues, Fátima Cruz (2020), “Olha, eu não sou branca. Verónica de Fátima”, Memoirs newsletter, 109.