Milhares de habitantes das florestas de Mata Atlântica que cobriam toda a região da atual fronteira entre os estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo (Brasil), os Tikmū’ūn - mais conhecidos como Maxakali - viram o seu território se converter num imenso deserto de capim colonião à medida em que a frente colonizadora avançou pela região a partir do século XIX. Apesar de habitarem, hoje, uma terra arrasada, os Tikmū’ūn preservaram em seus corpos, palavras e memórias a diversidade dos seres visíveis e invisíveis que habitam ou já habitaram suas florestas. Através de um vastíssimo complexo musical e ritual conhecido como yãmīyxop, estes homens e mulheres atualizam diariamente a presença da floresta em suas vidas, a despeito de toda a destruição do território que lutam para retomar e reflorestar. Nesta apresentação, revisito o histórico da devastação dos vales do Mucuri e Jequitinhonha, aproximando o passado da região com o futuro projetado para a floresta amazônica. A partir dos cantos e histórias dos yãmīyxop, reconstituo os vínculos dos povos Tikmū’ūn com a floresta e seus habitantes ancestrais. Por fim, apresento as recentes iniciativas destes povos para retomar a terra e a vida em seus territórios, em particular a experiência recente da Aldeia-Escola-Floresta, uma iniciativa que combina arte, política e educação “para fazer voltar a mata, as águas e os bichos”, como suas principais lideranças costumam formular.