A pandemia veio intensificar uma realidade premente: a situação social dos produtores culturais, artistas, autores, operadores estéticos, ativistas, técnicos, ou seja, da demografia intensiva que garante a produção artística e cultural portuguesas é precária, dramática e inaceitável. No início do século XXI continuamos a assistir no mundo da cultura a histórias de vida dignas de uma novela de Balzac, de um Eugene de Sue: criadores sem dinheiro, famílias de artistas sem recursos para manterem um mínimo de dignidade, vidas baseadas numa criatividade mal paga, sujeita às regras do trabalho temporário, à indiferença do Estado que de forma assimétrica e intolerável exerce políticas neoliberais de "menos Estado, melhor Estado" em desfavor da Cultura e do seu ecossistema social ao mesmo tempo que encontra gigantescos recursos monetários para subsidiar a sobrevivência autofágica