A crítica e “denúncia” daquilo que é designado como “ideologia de género” tornou-se algo que perpassa várias Igrejas e mesmo várias religiões. A leitura atenta dos argumentos utilizados parece revelar a existência de interpretações diversas, se não mesmo confusas, daquilo que se entende por “género” – um “palco” no qual se “encenam” conjunções e disjunções, nomeadamente, entre o conceito de “natureza” e de “cultura”.
Esta intervenção pretende constituir uma análise crítica de dois documentos provenientes da Igreja Católica nos quais a questão da chamada “ideologia de género” é tematizada: a “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo”, de 2004, redigida pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, e influência determinante no pensamento de João Paulo II; e o documento do Conselho Pontifício para a Família, intitulado “Família, Matrimónio e Uniões de Facto”, escrito em 2000, da autoria de Alfonso López Trujillo, para o qual o documento de Ratzinger remete.