Conceição Evaristo situa a sua trajetória pessoal, enquanto escritora, no âmbito da constituição de uma literatura negra ou afro-brasileira. Parte da crítica de um cânone que, desde o Romantismo, contribui para consolidar o mito da “democracia racial”, que apaga, silencia, ou caricatura a figura do negro e da negra. Neste quadro, a escrita de Conceição pretende usar a “escrevivência”, uma criação ficcional a partir de memórias individuais e coletivas de sujeitos negros, para inscrevê-los na identidade brasileira como partes inteiras e fecundas. Isto passa por contar histórias que, ao invés de embalar a hegemonia da Casa Grande, a deve inquietar nos seus sonos injustos. A escrita de Conceição é, assim, um desafio à identidade nacional brasileira, à memória coletiva, ao cânone literário, à própria análise literária e, sobretudo, um manifesto político pelo reconhecimento das populações negras e periféricas e sua cidadania plena.
Leitura de trechos de textos da autora por Raquel Lima e Luciana Carmo.