Muito embora possamos afirmar que a violência sexista e patriarcal inscrita nas nossas sociedades não é nada de novo – infelizmente – ela pode assumir formas e discursos que, pela sua quantidade ou qualidade, são problemas novos que nos devem instigar à reflexão e à participação. Assistimos, em vários países da Europa e do mundo a uma nova onda conservadora que reforça a ideia da necessidade de tutela sobre certas identidades sexuais descrevendo-as ou remetendo-as para as esferas do acessório ou do irracional. Vários exemplos, com diversos contornos e escalas, podem ser pensados como: as orientações sobre a obrigação do uso de maxi-saias nas escolas básicas e secundárias em Moçambique para prevenir o assédio e as gravidezes das adolescentes; a exaltação da ‘recatada e do lar’ no Brasil como o modelo do que devem ser e onde devem estar, as mulheres ou as recorrentes tentativas de voltar atrás em termos legislativos sobre o direito ao próprio corpo, à sexualidade e à reprodução em Angola, Polónia, Espanha ou Brasil.
Nesta sessão dedicámos a nossa reflexão à misoginia na política e nas formas e qualidade que esta tem vindo a assumir em diversos contextos e lugares do mundo. De Donald Trump ao presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem as afirmações sobre as mulheres e as suas capacidades intelectuais, estão longe de serem episódicas. São apenas dois exemplos mais mediáticos do tipo de ódio misógino que tem povoado o discurso político nos últimos tempos no mundo. É também uma das faces do neo-liberalismo financeiro e colonial que domina. Para isso desejamos mobilizar vários olhares, com lugares de enunciação distintos que possam problematizar com complexidade as distintas realidades mas também nos forneçam energias emancipatórias capazes de nos mobilizarem em torno das causas e das transformações progressistas que desejamos.