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07-12-2013        Jornal de Notícias

Nas últimas décadas, assistimos ao aniquilamento de capacidades instaladas em atividades no setor do mar - transportes marítimos, reparação naval, pescas - no contexto de uma política de desindustrialização. Entretanto, os mesmos governantes que "apadrinharam" tal rumo não se cansaram de fazer discursos sobre a importância do mar. E diga-se, por uma questão de dar "mérito" a quem o tem, que o atual presidente da República é o campeão desses discursos.

Sem dúvida, o mar significa para o nosso país uma possibilidade de criação de atividades múltiplas, produtoras de imensa riqueza. Portugal tem extensa costa e imensa zona marítima. Mas não se vai para o mar, desenvolver o fundamental dessas atividades, a nado.

Os transportes marítimos estão em crescimento e vão continuar a crescer para se resolverem problemas ambientais e de custos de circulação de produtos e de bens no mundo. Vai ser preciso construir barcos, reparar, adaptar e modernizar os que existem. A proteção da costa e das nossas águas vai exigir novas e inovadas frotas. A pesca, não estou a ver que se faça à cana, com os portugueses empoleirados nas falésias. Noutras atividades novas, como a produção de energia, a investigação e o turismo ligados ao cuidado e ao usufruto do mar, por muito que se possa trabalhar em terra, será sempre indispensável utilizar barcos.

Como podemos admitir a destruição dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo? Como é possível o presidente da República não ter uma palavra de alerta forte, que ponha termo às trapalhadas e aos envolvimentos em negócios suspeitos ou de mera contabilidade mesquinha, em que o Governo está envolvido?

Exige-se rigor, defesa dos interesses dos portugueses e do país. Todos sabemos que a União Europeia tem seguido políticas de desindustrialização, aplicadas em vários países, secundarizando criminosamente atividades como a construção e a reparação naval. É vergonhoso ver o ministro do setor a proteger-se nessa orientação, que jamais devíamos seguir, para justificar o negócio de ocasião que oferece à Martifer, empresa que parece estar em grande fragilidade financeira.

A Lisnave, durante muitos anos líder mundial na reparação naval, não foi esfrangalhada por não ter futuro, mas sim porque a desativação da Margueira - com o Estado a executar uma cláusula estabelecida com Salazar, pois os direitos dos capitalistas são sempre adquiridos - propiciou uma forte base de capitalização à família Melo que, entretanto, entrou em força na formação e "rentabilização" do "mercado da saúde". Outros estaleiros foram desativados em resultado de comportamentos de incúria e, às vezes, como aconteceu noutros setores de atividade, para propiciar negócios de oportunidade.

Desde o início dos anos 2000, a postura dos governos foi de grande desleixo para com os interesses dos Estaleiros de Viana. Sucederam-se administrações que ou embarcaram no afundamento da empresa ou quiseram agir e não encontravam condições e meios da parte das tutelas.

Dói, e obriga-nos à revolta, ver, durante dois anos, o Governo a não arranjar dinheiro para a empresa cumprir encomendas, mas, de um dia para o outro, encontrar 30 milhões para despedir e destruir a empresa.

Dói ouvir a comunicação social noticiar este desastre camuflado no anúncio da "criação de cerca de 400 postos de trabalho", a face mentirosa desse processo destrutivo. A certeza que o Governo apresenta é a de despedir 609 trabalhadores qualificados. Tudo o resto é mais que nebuloso, incerto e precário.

Um governante que põe em andamento um caso destes, e nele utiliza a mentira e a manipulação, e outros que anunciam desemprego como algo empolgante deviam de imediato ser suspensos de funções e ser-lhes instaurado um processo com intenção de despedimento a ser executado em prazo muito curto.

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo têm capacidades adquiridas, têm trabalhadores qualificados e são necessários ao desenvolvimento económico, social e cultural da região e do país. Os trabalhadores e os seus sindicatos, a população da cidade e da região, as suas organizações e instituições merecem o apoio de todos os portugueses, na luta pela sua defesa.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
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