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21-07-2013        Público [Revista 2]

A proposta portuguesa de construção conjunta de navios de guerra, com Angola, deverá pacificar a relação entre os dois países. É preciso usar pinças quando se trata deste tema, o que provavelmente não será muito adequado na construção naval. Mas imaginar um inimigo comum é um começo.

Também noutras áreas, a ex-"África portuguesa" será um terreno fértil. Nos últimos cinco anos, deu-se uma revolução na investigação sobre arquitectura e urbanismo nas ex-"províncias ultramarinas". Esse salto, realizado muitas vezes em colaboração com investigadores e instituições locais, embora incida sobre acontecimentos até 1974, nos cinco países, repercute-se inevitavelmente nas suas identidades actuais.

Para não falar no avanço cataclísmico em relação à nossa. Depois do trabalho pioneiro de José Manuel Fernandes, as investigações que começam a ser conhecidas de Ana Vaz Milheiro, Ana Tostões, Madalena Cunha Matos, Maria Manuel Oliveira, Ana Magalhães, Maria Manuela da Fonte, Elisiário Miranda, João Morais, entre outros, estabelecem uma nova e impressionante cartografia.

A historiografia deste período tem na arquitectura construída e nas cidades consolidadas entre o pós-guerra e 1974 valiosa matéria de reflexão que agora é exposta decisivamente. São 30 anos em que a projecção africana da "identidade portuguesa" revela facetas extraordinárias, do historicismo suave a um modernismo resoluto, num delírio permeado com um necessário pragmatismo.

Tratando-se essencialmente de levantamentos, rigorosos e aprofundados, permitirão uma análise "pós-colonial" do processo português. Embora até na definição do que significa ou possa ser "pós-colonial", o império inglês continue a colonizar... Ou será que o império português foi uma alucinação colectiva, o que explicaria a sua não-inscrição na história mundial?

Para uma abordagem "pós-colonial" na arquitectura, proponho um "triângulo africano": do lado oficial do Estado Novo, o trabalho dos Gabinetes de Colonização (João Aguiar, Lucínio Cruz, Mário de Oliveira, Schiappa de Campos, António Seabra); na colonização de feição modernista, a obra de Vasco Vieira da Costa em Angola; e com 25 estilos a obra de Pancho Guedes em Moçambique.

Este triângulo delimita portuguesismos de várias inclinações e internacionalismos de expressão francófona (Vieira da Costa) e anglo-saxónica (Pancho). Entretanto, o Mercado de Kinaxixe foi demolido em 2008, e o "Leão que Ri" encontra-se em muito mau estado; talvez, de facto, se venha a provar que o império português nunca existiu...

Só quase 40 anos depois das independências africanas começa a emergir uma das histórias mais fascinantes da arquitectura do século passado, pronta para ser vivida no nosso século. Com navios de guerra, amigáveis e colaborativos, no horizonte.


 
 
pessoas
Jorge Figueira



 
temas
arquitetura    Angola    Estado Novo