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07-06-2013        Diário de Notícias

Não é preciso um governo mundial para haver governação global. Porque a governação global não é feita de regulações centralizadas por instituições de escala mundial mas sim da definição de modelos de regulação e da adoção de um quadro ideológico de referência que dispensam amarrações institucionais.

Robert Cox, um dos vultos maiores da reflexão académica contemporânea sobre relações internacionais, sintetiza no conceito de "nebulosa" essa autoria difusa da governação global. Define-a assim: "Uma elite indeterminada de influentes e de agências que partilham um bloco de ideias e que desempenham em conjunto a função de governação. A política e a doutrina são desenvolvidas e difundidas através de conclaves não oficiais (por exemplo, a Comissão Trilateral, as conferências de Bilderberg, as cimeiras económicas anuais de Davos, etc.) e de organismos intergovernamentais e de peritos: os comités da OCDE, o Banco de Pagamentos Internacionais de Basileia ou as cimeiras do Banco Mundial e do FMI." E acrescenta: “não há um processo de decisão formal, há sim um conjunto complexo de redes interligadas que criam uma ideologia económica comum e que injetam este produto consensual nos processos nacionais de decisão. A nebulosa é simultaneamente externa e interna aos Estados”.

É pois nesse espaço informal e nebuloso que se define o que é good governance e o que não o é.  E essa informalidade é o rosto não democrático do poder mundial. As ideias, os modelos, os discursos, as escolhas, as cumplicidades são inoculadas nos “líderes” nesses espaços imunes ao contágio da exigência democrática.
O Clube de Bilderberg – como a Comissão Trilateral ou o Forum de Davos – não tem que ser visto como sinónimo de conspiração obscura para poder ser avaliado politicamente. Embarcar em exercícios estilo Código Da Vinci na leitura da influência destes atores dá preferência à novela sobre a política. Desde 1954, o Clube de Bilderberg reúne elites políticas, empresariais e militares. Com discrição, sem holofotes, sem povo e com muito poder – o poder do contágio, o poder da modelização do olhar e do discurso, o poder da limitação da escolha política. Bilderberg é o centrão em escala mundial. E é para facilitar a perpetuação do centrão que manda – na finança, nos media, na produção de senso comum, na elaboração de políticas - que o clube serve.

António José Seguro participa com Paulo Portas na conferência de Bilderberg de 2013. Sendo um convite de Francisco Pinto Balsemão, é uma escolha do Secretário-Geral socialista. E é uma escolha francamente preocupante para quem quer dar densidade programática concreta a uma alternativa de esquerda ao atual Governo das direitas em Portugal. Acreditar que António José Seguro seja convidado para sensibilizar os CEOs e os estrategas de Bilderberg para os graves problemas do emprego e do crescimento na Europa é o mesmo que acreditar que um simpatizante da não-violência converterá uma claque de futebol organizada à tolerância e ao fair play. Não, sabidamente Seguro participa no exercício anual de densificação de uma rede de poder. Só isso. E isso tem um enorme significado.

 


 
 
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José Manuel Pureza