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09-02-2013        Jornal de Notícias

As graves contradições em que a União Europeia (UE) se move, os efeitos das políticas por si adotadas, os caminhos trilhados pelos países europeus, em particular aqueles a quem são impostas doses cavalares de austeridade, levam-nos a concluir: estamos no meio de um pântano que se amplia e torna mais perigoso a cada passo.

A discussão das opções financeiras da UE para o período 2014/2020 foram feitas com base num modelo de financiamento esgotado, debaixo de uma disfunção total entre a política monetária e o pretenso projeto político, não asseguram o indispensável crescimento económico e a criação de emprego. Mais uma vez imperou uma dicotomia reacionária, que divide os países entre ricos e pobres e responsabiliza estes pelas dificuldades em responder às políticas adotadas pela UE, quando essas políticas estão moldadas para servir os mais ricos e sustentar um sistema de especulação financeira e de roubo organizado aos povos, tendo como primeiro centro de poder o Banco Central Europeu, o seu programa político neoliberal e de demolição do Estado Social.

Esta semana chegou-nos de Inglaterra um exemplo do que significa a gestão do serviço de saúde sujeita a prioridades centradas, de forma cega, na redução de custos. O número de mortes presumivelmente causadas por essas opções num só hospital é indicativo do drama nacional escondido.

Da Irlanda – como Portugal, “bom aluno” na execução das políticas da UE – soube-se que em 2012 se registaram oficialmente 525 suicídios, que imensos alunos chegam à escola com fome, que o sistema de saúde está a degradar-se, havendo médicos e enfermeiros a trabalhar 70 horas por semana.

Na Grécia vimos, numa distribuição de legumes, milhares de pessoas a acotovelarem-se para deitar a mão a umas batatas ou a qualquer produto utilizável para fazer sopa.

De Espanha chega-nos a informação de um Partido Popular – o partido no poder – envolvido em corrupção até à medula, com um Primeiro-ministro a fazer uma “videoconferência” de imprensa, para não se confrontar com os jornalistas.

Em Portugal as situações pantanosas e os escândalos avolumam-se. O governo retirou mais mil milhões de euros do erário público (roubou ao povo), para tapar buracos do BPN. Os privados que foram ao processo de enriquecimento fácil a essa organização de agiotas e ladrões, podem assim não pagar as suas dívidas. Os reformados, os desempregados, o comum dos trabalhadores fará mais um sacrifício para manter o “necessário” funcionamento do sistema.

São inadmissíveis, em democracia, o despudor e a arrogância do governo no processo de nomeação do Secretário de Estado Franklin Alves e nas explicações esfarrapadas de mentira, dadas pelo Primeiro-ministro e pelo Ministro da Economia, ou ainda o aval “moral e ético” expresso pelo Ministro Relvas.

Vítor Gaspar vislumbrou a “luz ao fundo do túnel”, quando os indicadores nas áreas económica e social se agravam e se constata que o empobrecimento e o desemprego destroem cadeias de solidariedade, quando se torna claro que a chamada crise do euro significa uma profunda crise política, nacional e europeia, até agora sem soluções à vista, quando estamos com o sistema político a degradar-se.

Como é possível falar de “luz ao fundo do túnel” num quadro em que o famigerado relatório do FMI prevê que em 2017 o “desemprego estrutural” se cruze com o “desemprego oficial”, em torno de uma taxa de desemprego de 14,3%?

Quanto desemprego de longa duração, quanta pobreza, quanta emigração forçada, diminuição da população ativa e dos salários esta gente prevê impor aos portugueses?

Entretanto, as contradições expostas pelo Partido Socialista e pela reunião da Internacional Socialista – hoje caricatura de projeto de governação alternativa – não ajudam às saídas, pois limitam-se a proclamações de algum valor simbólico, mas sem aplicação efetiva quando estão no poder.

A saída do pântano é necessária e possível. Contudo, não chegaremos lá sem uma forte mobilização e luta do povo, feitas com velhos e novos atores sociais e políticos, forçando novas dinâmicas que ajudem a romper este bloqueio, gerando esperança e futuro.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
UE    democracia