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22-12-2012        Jornal de Notícias

“Tenha paciência” era o que diziam as almas caridosas aos “mendigos” quando lhes faltavam trocos na carteira, ou vontade para dar qualquer coisa. “Tenham paciência” é o que o governo PSD/CDS nos vai dizendo quando fala da “dívida” e das suas receitas para a pagar, que além de nos colocarem coletivamente pobres, nos exigem a desistência da dignidade durante décadas.

Não tenhamos paciência! Sejamos calmos e ponderados, mas determinados contra estes apelos à resignação e ao retrocesso.

Não condescendamos com os “perigos” de os protestos contra as políticas deste governo poderem gerar instabilidade política. A pior das instabilidades é a que está instalada em S. Bento e em Belém. O que está em causa é a venda ao desbarato do país, ou a entrega a interesses particulares, das suas melhores empresas, dos seus sistemas públicos de saúde, de educação, de pensões. Se deixarmos este governo à solta, nem as estradas ficarão como legado.

O que este governo está a fazer equivale a transformar o próprio Estado, a Administração Central e Local, o país, numa gigantesca parceria público-privada, onde para dar um passo é preciso pagar uma portagem. Portagem na autoestrada, portagem no hospital, portagem na escola, barreiras inultrapassáveis no acesso ao subsídio de desemprego, a reformas dignas, ao rendimento mínimo, a condições de vida dignas. Sabe-se lá se até portagem para descansar umas horas na praia ou no jardim. E, em cima de tudo isto, impostos para subsidiar “o serviço público” prestado pela finança.

Não tenhamos paciência perante os discursos que invocam a justiça e a igualdade, exatamente para as liquidar. Não toleremos que digam que “os ricos” devem pagar a saúde e o ensino, quando o verdadeiro objetivo das “reformas” em curso é tornar competitivos os negócios privados de saúde e de educação para ricos, deixando para “os pobres” hospitais e escolas de serviços minimalistas. Não toleremos a propaganda de que é preciso cortar nas pensões “milionárias”, quando toda essa treta não passa de uma cortina de fumo que visa manter os verdadeiros privilegiados à margem de qualquer sacrifício, empurrar “os ricos” para planos de poupança reforma, deixando aos “pobres” um sistema de pensões subfinanciado.

O Primeiro-ministro foi a uma assembleia da JSD mobilizar os jovens contra os grisalhos, porque o seu objetivo é retirar aos jovens toda a segurança no futuro, colocá-los a morder as suas próprias pernas e destroçar laços de solidariedade entre gerações.
Não aceitemos a demagogia dos “pobres” contra os “ricos” quando o que o governo está a fazer é empobrecer todos, menos a minoria que detém o controlo acionista da gigantesca PPP em que querem transformar o Estado e o país.

Instabilidade é deixar que isto vá andando. Prudência é pôr fim a esta agonia antes que seja tarde.

A democracia é a alternativa. Democracia em que todos contribuem na proporção das suas possibilidades e todos beneficiam dos serviços públicos. Onde não tenha que pagar “o rico”, porque já pagou impostos, nem tenha que pagar “o pobre”. Aquilo a que cada um está a ter acesso é um direito que a sociedade pode e deve garantir a todos, por serem seres humanos, na base de políticas de distribuição e redistribuição justas da riqueza. Democracia em que ninguém tenha de despir-se da dignidade para ter trabalho e salário. Democracia em que todos tenham condições para ter voz, e ninguém seja perseguido por exprimir pontos de vista discordantes ou por protestar.
Instabilidade é a ameaça que impende sobre a democracia quando nos dizem, devagarinho, “não-há-dinheiro” para cumprir os direitos laborais, sociais, culturais e políticos. Há dinheiro sim. Dinheiro que foge para paraísos fiscais.

Dinheiro que se suja em transações de coisas que deviam estar fora do mercado, como é o caso das decisões políticas. Dinheiro pago em dividendos a acionistas de empresas que estão a despedir. Dinheiro não investido produtivamente, mas que circula na especulação financeira.

Chega de silêncios e condescendências.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
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