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20-10-2012        Jornal de Notícias

Insanidade orçamental é a doença de Gaspar. Não se sabe se foi Passos Coelho que lhe transmitiu o vírus, ou se Vítor Gaspar o apanhou nas poltronas da União Europeia.

Este vírus também já foi detetado por gregos, irlandeses, espanhóis, italianos, cipriotas, húngaros e outros, nos “medicamentos” que a curandeira Merkel e a monoteísta troica andam a receitar aí pela Europa.

Perante a violência do vírus e a propagação da doença, os povos estão a chegar a uma conclusão: ou se unem para fazer uma desinfeção geral, ou estão condenados a sofrimento prolongado.

O nosso governo está todo contaminado por este e outros vírus malditos que não têm cura. Urge mandá-lo para bem longe. Não há quarentena que o salve.

Quem estiver atento aos discursos dos governantes e dos seus mentores, rapidamente se apercebe de que o que dizem sobre o país e os efeitos das suas políticas parecem mesmo discursos em estado de delírio. Os governantes que temos já não conseguem assentar os pés na terra.

Tudo isto são sinais preocupantes. Se a governação instituída está tão distante da realidade, cuidado! O terreno começa a estar livre para falsas alternativas ou perigosos populismos.

Como ontem referi num artigo neste jornal, o Orçamento do Estado (OE) está trabalhado a partir de pressupostos desastrosos e construído com múltiplas artimanhas e manipulações.

Construir um OE a partir de uma “crença” já profusamente denunciada e negada pela razão, ainda por cima depois de os supostos pais da coisa (FMI e Cª) confessarem o “erro”, significa colocar o povo e o país a darem um passo para o abismo.

Entretanto, tomemos todas as precauções porque os governantes não são os únicos contaminados pela “malvadez difusa” que caracteriza os tempos de crise ou pelos fundamentos da dita “crença”. Ainda recentemente ouvimos um alto dignitário da Igreja Católica, que em matéria de análise de crenças devia ser doutor, afirmar o seu acreditar na inevitabilidade. Receitando ao povo o sofrimento individual, a autoflagelação, o castigo imposto pelos puros, como caminho para a regeneração, acusa-o de se ter deixado contaminar pela soberba, pela luxúria, pelo viver com o dinheiro alheio.

Alguns dos que criticam este OE só o fazem porque o vírus lhes entrou no bolso. Enquanto o ataque era só aos de baixo aplaudiram ou foram coniventes. Para tentar que os problemas se resolvam sem alterar muito as bases iníquas de injustiça e desigualdade do sistema, fazem-se de descobridores da pólvora, atacam as verdadeiras alternativas e prosseguem o jogo da calúnia, chamando “marretas” aos que defendem soluções fora da cartilha dominante.

A sua indignação é, sem dúvida, importante no combate que os trabalhadores e o povo têm de travar. Contudo, há quem se limite a tentar o exercício de substituir os aumentos de impostos por cortes na “despesa”. Como não há milagres, a receita resume-se a colocar o povo a assumir a fatura com perdas nos direitos à saúde, ao ensino, à segurança social, à justiça, ou pagando mais caro a eletricidade, os transportes, os bens de consumo de primeira necessidade, os serviços públicos, as infraestruturas que suportam o funcionamento da sociedade.

Esta semana fiz parte de um painel numa Conferência sobre o Orçamento de Estado na Universidade Católica, organizada por esta Universidade e pela PricewaterhouseCoopers (PwC). Um dos outros elementos do painel era Pedro Ferraz da Costa, antigo presidente da CIP e presidente do Fórum para a Competitividade. Presto-lhe pública homenagem pela clareza com que colocou o que muitos andam por aí a tentar construir de forma escondida.
Ferraz da Costa, depois de direta e indiretamente ter defendido a redução dos salários (insistindo ainda na tese de que os trabalhadores da Administração Pública são privilegiados), depois de ter criticado os patrões que não perceberam a importância da descida da TSU (a ideia tem paternidades) apontou outros “caminhos” para a saída da crise: i) que o Tribunal Constitucional não possa “impedir a governação”; ii) que “Portugal deve sair do euro”; iii) que regressemos às condições sociais em que “vivíamos em 1975”.

Isto ouvi eu e muitas centenas de pessoas. Acordemos!


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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