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14-04-2012        Jornal de Notícias

Uma das maiores fraudes intelectuais que se ouve na atualidade, expressa por governantes e por bem instalados no sistema económico e social dominante é: "agora não importa estarmos a discutir as causas e os responsáveis dos problemas que temos, o que é preciso é não perder tempo e mais esforços para encontrar soluções";.

Em regra, quem faz tal afirmação apresenta de imediato, como causa dos problemas, " que andamos todos a viver acima das nossas possibilidades";. E acrescenta um chorrilho de justificações centradas no "excesso de gastos";, associado aos custos dos mais elementares direitos sociais, passando ao enunciado das imoralidades dos gastos dos pobres e dos paupérrimos e das regalias do comum dos trabalhadores. Ou seja, dizem-nos para não olharmos as causas e os responsáveis exatamente para instituírem falsas causas e falsos responsáveis.

Ao agir desta forma procuram gerar culpa nos trabalhadores, nos estudantes, nos pensionistas e reformados, nos desempregados, nos doentes, levando-os a considerarem os seus pequenos direitos à saúde, à proteção social, ao ensino, a bens básicos para a organização da sua vida, como "privilégios"; ou "regalias"; que "desequilibraram as contas e geraram a crise";. Assim, fica mais fácil impingirem ao povo a ideia da inevitabilidade dos sacrifícios e a patranha da não inexistência de alternativa.

É por tudo isto que se impõe uma reflexão profunda sobre as crises e as alternativas, sustentada em investigação e análise sérias, deitando mão de todos os recursos do pensamento crítico. Estamos desafiados a pensar e a agir num caldeirão social e político onde está em ebulição uma nova era mundial que nos coloca desafios universais, regionais e nacionais.

Os diagnósticos da(s) crise(s) não estão todos feitos e não é assim tão bem conhecida a caraterização da realidade portuguesa – nos planos económico, financeiro, social, cultural, da justiça e outros. É preciso um profundo trabalho de análise, de debate e de formulação de propostas que facilitem, no plano social e político, a escolha das opções coletivas mobilizadoras e transformadoras da sociedade.

A elaboração de diagnósticos sérios é decisiva, pois, são estes que determinam o leque das alternativas.
No plano geral é preciso relembrar insistentemente três coisas. A primeira, a necessidade de observar, com acutilância crítica, que quanto mais instituída for a crise, maior é a ausência de controle sobre quem nos governa.
A segunda, trazer à memória que foi a expressão da crise financeira (2008), gerada pela desregulação bancária e pela atividade especulativa (que prosseguem), que desencadeou a crise económica para a qual foram mobilizados os recursos públicos que provocaram os défices e as dívidas com que hoje nos deparamos.

A terceira, é que o fundamental dos conteúdos alternativos não é assim tão complexo, pois situa-se na resposta a problemas simples mas muito concretos do quotidiano dos cidadãos: combater a pobreza e as desigualdades; utilizar os recursos (públicos e privados) para criar emprego e produzir bens úteis e necessários; valorizar o trabalho com salários dignos e responsabilização das pessoas; garantir direitos essenciais a que qualquer ser humano deve ter acesso em sociedades modernas e democráticas.

As alternativas são possíveis: relembrando como se melhorou a vida das pessoas; analisando de forma crítica as origens e a natureza dos problemas; afirmando o valor e os custos da democracia, pois os direitos custam dinheiro e não é por isso que são privilégios; resistindo, porque "nada é mais letal que a resignação" e é preciso dar combate a este capitalismo perigosamente indutor de retrocesso social e civilizacional; dando emergência e força a muitas propostas que já existem mas estão silenciadas; trabalhando com humildade denominadores comuns a partir de pequenas reformas sérias que se transformem em mudanças profundas e assumindo ruturas com as políticas que, no plano nacional ou europeu, estão a impedir a afirmação social e política de projetos coletivos mobilizadores e transformadores; governando com ética, rigor, transparência e participação dos cidadãos.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
crise