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24-03-2012        Jornal de Notícias

Enquanto trabalhador, que foi ativo sindicalista durante muitos anos, como cidadão empenhado no estudo e na afirmação do valor e do lugar central que o trabalho digno ocupa no desenvolvimento das sociedades, aqui deixo um abraço solidário e uma grande saudação a todos os trabalhadores e trabalhadoras que fizeram greve no passado dia 22, ou que, mesmo não a tendo feito, estão com os seus objetivos e aproveitarão a primeira oportunidade para se manifestarem.

Existem fortíssimas razões de protesto, e a luta pelo futuro do país passa por dar combate às expressões de cansaço, de fatalismo e de resignação que vão ganhando terreno em resultado da dureza das "inevitáveis"; políticas de austeridade. Esses objetivos estiveram nesta Greve convocada pela CGTP-IN.

Na noite de 22 vários "comentadores"; da Greve Geral faziam coro na afirmação de que a greve é um direito dos trabalhadores, mas nas suas apreciações estão a aumentar os mas. Vão surgindo sugestões de condicionalismos à liberdade de todos poderem fazer greve, sugestões de amputação do direito.

Na Assembleia da República (AR) houve um deputado do PP que afirmou não estar longe o dia de se concretizar o sonho de todos os que querem ir trabalhar em dia de greve, o poderem fazer.
Será que este deputado se lembra que, fruto de políticas desastrosas que ele e seus pares têm defendido, mais de 770 000 portugueses e portuguesas todos os dias são impedidos de irem para o trabalho, porque estão desempregados?

As greves são, desde a emergência do modo de produção capitalista, e continuarão a ser, em Portugal e por todo o mundo, recurso legítimo e importante para fazer face à exploração e a condições desumanas de trabalho. É curioso que aqueles comentadores, ao mesmo tempo que falavam da greve como um direito, iam dizendo que esta Greve era inútil. Então porquê a tentação de restringir o direito?

É claro que as lutas dos trabalhadores não se limitam ao exercício da greve, é preciso ter presente a relação entre as reivindicações e propostas, as lutas laborais, a greve, a negociação e o sindicalismo na sua ação geral, desde o local de trabalho.

Nos tempos próximos vai ser preciso intensificar a luta contra a pobreza e as desigualdades, que são também causas de perda de liberdade. Vai ser preciso afirmar no terreno que "o trabalho não é uma mercadoria";, que o trabalho forçado é ilegal e indigno, que o emprego é trabalho com equilíbrio de direitos e deveres.

A luta pela contratação coletiva tem de crescer, porque ela é, historicamente, o núcleo fundamental da determinação das condições de trabalho; foi o mais eficaz instrumento de políticas para uma mais justa distribuição da riqueza na segunda metade do século XX; limitou o arbítrio patronal; e é imprescindível na normalização das relações de trabalho.

É imprescindível dar combate aos conteúdos da legislação laboral que está na AR – mesmo que depois de aprovada – porque ela facilita o aumento do desemprego, reduz a redistribuição do trabalho, aumenta o tempo de trabalho, ataca a contratação coletiva e afronta o desenvolvimento da sociedade.

Estes combates são primordiais para as jovens gerações, e decisivos para impulsionarem as forças políticas - que apostem de forma séria na transformação do país - a responder aos anseios do povo português: a acender-lhes uma luz de esperança e confiança, encontrando entre elas denominadores comuns que sustentem uma alternativa de progresso.

Há constrangimentos que são europeus, exigindo respostas nesse plano, assim como há necessidade de se construir convergência de ação social e política entre os trabalhadores e os povos dos países que estão a ser massacrados.

O movimento sindical tem de procurar estar em todos os planos, partindo da ação concreta que se pode e deve fazer assente numa unidade, com princípios e objetivos claros, que dê força à ação.

É preciso um forte apoio aos trabalhadores para afirmarem a sua organização e a sua ação nos locais de trabalho e na rua, e apoio solidário aos sindicatos para tornarem dinâmico e eficaz o binómio negociação/conflito. Assim, daremos um bom contributo para o futuro.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva