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13-08-2022        Jornal de Notícias

No debate político e económico, quando se discutem pressupostos indispensáveis para o “crescimento” e o “desenvolvimento”, convoca-se a necessidade de investimento. E é muito comum formar-se o consenso em torno da ideia de que todo o investimento estrangeiro, é bem-vindo. Não! Isso não é verdade, nem para o investimento estrangeiro nem para o nacional.

Os investimentos são bons ou maus em função do que deles resultar a favor de toda a população, das condições estruturais que ficam para o desenvolvimento do país, da qualificação e fixação de “recursos humanos” que cada investimento pode gerar. Um negócio pode ser vantajoso para quem nele intervém, mesmo que seja o Estado (os poderes que o representam), e prejudicial para o povo e o país.

Portugal está prisioneiro de um baixo perfil de especialização da sua economia, num contexto marcado por uma inflação galopante e por mudanças geopolíticas que acentuam pressões dos países poderosos sobre os outros. Investimentos especulativos, ou em atividades de baixo potencial de melhoria de produtividade acabarão por tolher a nossa capacidade de mudança de rumo. O emprego até pode crescer de forma passageira, mas fixam-se os baixos salários, desperdiça-se o investimento já realizado na educação e na formação dos mais jovens, acentuam-se desigualdades, alastra a pobreza. É esta a realidade que estamos a viver.

Vejamos o que se passa com o turismo, a hotelaria, a restauração e o imobiliário (com impactos nas políticas de habitação) onde temos hoje negócio a rodos, mas contradições gritantes a gerarem impactos negativos no nosso futuro coletivo: o emprego e os salários não evoluem; as condições de acesso à habitação empurram as pessoas para longe dos seus locais de trabalho e de estruturas de apoio social, agravando encargos; os preços da restauração são para turistas, que não é a nossa condição do dia a dia.

Interroguemo-nos sobre os verdadeiros efeitos dos vistos gold, apresentados como instrumento de atração de investimento para dinamizar a economia e criar emprego. Entrou muita gente indesejada com condutas suspeitas - em Portugal como na União Europeia os indesejados são as populações que fogem da guerra e da miséria. Tudo indica que estamos perante um lamaçal de negociatas promíscuas, não houve criação de emprego, a fuga aos impostos presume-se elevada e este processo contribui para a especulação imobiliária.
Há que analisar com muita atenção, o tipo de investimentos de que necessitamos e as condições em que eles nos podem ser vantajosos na recuperação de indústrias e em setores estratégicos como a gestão da água, os recursos dos oceanos, as atividades de resposta aos bloqueios climáticos e ambientais.

A nossa localização geográfica não nos permite produções agrícolas com elevados consumos de água, nitratos e pesticidas. Contudo, é essa a via seguida no investimento na agricultura. Cada “crise” serve para excluir mais agricultores e produções que podiam construir vias alternativas.

Vamos para a exploração do lítio, a produção de hidrogénio, a identificação e desenvolvimento dos recursos do mar em segurança, colocando à cabeça os interesses de toda a população e assegurando posicionamentos vantajosos nas respetivas cadeias de valor, ou apenas ao sabor dos grandes negócios propostos pelos potentados económicos e financeiros já instalados?

Se não tomarmos cautelas, não faltarão investimentos indesejados.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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