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07-04-2019        Jornal de Notícias

Falar de perplexidade perante a iniciativa e o programa da Luxury Weekend Experience promovido pela Universidade Católica Portuguesa (UCP) é muito pouco. Quando, mesmo em Portugal, milhões de pessoas lutam heroicamente para sobreviver e almejar um patamar que lhes permita um mínimo de vida com dignidade, é de se perguntar: “Quo vadis Católica?”.

 Os portugueses para construírem uma sociedade desenvolvida não podem continuar a deixar-se tratar como “povo de brandos costumes”. Em várias áreas temos de ser muito mais exigentes.

Nos estatutos da Universidade Católica está o objetivo de promover e incorporar os valores evangélicos na educação e na construção de uma sociedade assente na dignidade da pessoa humana, na repartição justa e equitativa dos bens e na opção pelos mais pobres. É deveras inquietante que a UCP assuma preocupações e disponibilize apoios formativos para o universo do luxo, os serviços de luxo e a preparação de uma “casta” minoritária, que escandalosamente se refina nos prazeres do luxo que a indigna repartição da riqueza lhe propicia.

Todos os seres humanos têm direito à felicidade e aos prazeres da vida, mesmo em sociedades com elevadas desigualdades de classe. Mas, não nos tentem enganar com a “suposta liberdade de consumir” que o Papa Francisco, muito bem, vem denunciando e ativamente combatendo. Além disso, Instituições ligadas à Igreja Católica têm assumido em diversos tempos a observação pertinente de que para fazer um rico são precisos muitos e muitos pobres.

Porque a UCP é uma Instituição estritamente ligada à Hierarquia da Igreja, não apenas portuguesa, mas ao próprio Vaticano, é oportuno e necessário trazer a esta reflexão a citação da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), n.º 48, do Papa Francisco: “… Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho... Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissociável entre a nossa fé e os pobres …”.

É claro que a UCP dispõe, em Portugal, de um mercado para este tipo de cursos ou formações profundamente associados ao neoliberalismo económico que há muito têm espaço no seio daquela Universidade. Este escândalo é ainda completado com o anúncio de vantagens fiscais para os alunos que frequentarem aquele programa. A Hierarquia da Igreja Católica e os responsáveis diretos da UCP ao envolverem-se neste “porno-riquismo” estão objetivamente a promover “a economia que mata”.

Os católicos em geral e todos aqueles que assumem os valores e os ensinamentos da Igreja Católica como fundamentais para a formação das pessoas e para o desenvolvimento das sociedades humanas têm de indignar-se perante esta opção da UCP. Na encíclica atrás citada, o Papa Francisco expressa que “A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza”.

O importante papel da Igreja Católica no desenvolvimento da sociedade portuguesa deverá orientar-se para o combate às desigualdades profundas e à falta de vergonha que campeia no topo da pirâmide social e jamais para a gestão dos luxos.

 


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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