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08-02-2006        Diário Económico
Devemos encorajar os Portugueses a ser ambiciosos e a entrar no jogo, reconhecendo que há cada vez mais actores.

O Mundo está a mudar neste início do século XXI. A tendência de mudança iniciada há duas décadas intensificou-se. O Mundo ‘encolheu’, o tempo "acelerou" – e a dominância ocidental é cada vez mais posta em causa.

Todavia, existem diferentes visões sobre o que está acontecendo.

Num livro que rapidamente se afirmou como um ‘best seller’ nos Estados Unidos1, Thomas Friedman argumenta que o Mundo se tornou plano. Plano, no sentido em que os centros de conhecimento do planeta estão ligados numa rede global. Plano, no sentido em que o terreno de jogo está mais equilibrado, independentemente da localização dos actores. Plano, ainda, em resultado da transformação das estruturas hierárquicas em modelos organizacionais mais horizontais e colaborativos, com um papel crescente dos indivíduos. Plano, por último, uma vez que os novos actores-chave são mais diversos e estão mais dispersos, desafiando a liderança ocidental.

Em contraponto a esta posição, o conhecido académico Richard Florida considera que o Mundo é ondulado2, ou mesmo pontiagudo . Em sua opinião, a globalização alterou o terreno de jogo económico, mas não o nivelou. O Mundo é pontiagudo. Pontiagudo, na distribuição da população, com um crescimento explosivo de cidades. Pontiagudo, na concentração da actividade económica, muitas vezes sem relação com a densidade populacional. Pontiagudo, ainda, na capacidade científica e nas dinâmicas de registo de patentes. E a tendência vai no sentido de os ‘picos’ – as cidades e as regiões que lideram a economia mundial – se tornarem cada vez mais elevados.

A contradição, parece-nos, é mais aparente que real – e depende do ponto de vista. Falar de um Mundo plano, não significa a eliminação das diferenças, nem locais nem internacionais. Significa basicamente que a "aproximação" geográfica (resultante dos desenvolvimentos tecnológicos, desde os transportes às telecomunicações) e a conectividade vieram destruir, para muitos negócios, as barreiras tradicionais impostas pela geografia. Nesta medida, a geografia não é um destino, como argumentam os autores do livro "From Global to Metanational3". O que conta é a capacidade de iniciativa e de mobilização de conhecimentos para tirar partido das oportunidades de negócio abertas num Mundo conectado. Mas, como considera Florida, a geografia não pode ser apagada: existem economias de aglomeração que importa contemplar. E tem razão, também, ao sustentar que a concorrência pela captação do talento criativo é cada vez mais intensa e relevante.

Que implicações poderemos retirar para Portugal?

As implicações são múltiplas. Importará, no entanto, sublinhar três. Primeira: para jogar o novo jogo é preciso conhecimento, criatividade e ambição. Sem qualificações das pessoas e estímulo à iniciativa, não podemos aspirar a vencer. Segundo: devemos encorajar os Portugueses a ser ambiciosos e a entrar no jogo, reconhecendo que há cada vez mais actores. Terceiro: temos de conciliar a capacidade de singrar no jogo competitivo mundial com a coesão interna. Fecharmo-nos sobre nós próprios, blasfemando contra um Mundo onde a competição é mais ampla e acesa, não nos leva a lado nenhum – nem à afirmação competitiva, nem à coesão interna. O exemplo francês prova-o à saciedade!

1 Thomas Friedman, ‘The World is Flat’ - A Brief History of Globalisation in the 21st Century, Allen Lane, Londres, 2005. Tradução portuguesa já disponível: Thomas Friedman, "O Mundo é Plano - Uma História Breve do Século XXI", Actual Editora, Lisboa, 2005.
2 Richard Florida, "The World is Spiky", The Atlantic Monthly, October 2005, p. 48-51.
3 Doz, Yves, J. F. P. Santos e P. Williamson, "How Companies Win in the Knowledge Economy: From Global to Metanational", Harvard Business School Press, Boston, 2001.