Centro de Estudos Sociais
sala de imprensa do CES
RSS Canal CES
twitter CES
facebook CES
youtube CES
25-05-2005        Campeão das Províncias
O aumento imparável da mediatização das sociedades ao longo das últimas quatro décadas vem colocando novos desafios à expansão da esfera pública e da cidadania. Como sabemos, o exercício pleno da cidadania depende largamente da conjugação entre o papel dos média e a acção dos novos movimentos sociais, factores decisivos na consolidação das sociedades democráticas.
Se entendermos a democracia no seu sentido mais profundo, teremos de a conceber como um processo em que os diversos agentes e protagonistas do debate público contribuem para estender a esfera da cidadania – e portanto alargar as formas de intervenção cívica e política – para além da acção estritamente institucional. É assim que o papel dos média, por um lado, e o dos movimentos sociais, por outro, são elementos fundamentais desse processo. Reflexo do descontentamento das populações e comunidades, os movimentos sociais, embora podendo revelar um carácter mais espontâneo ou mais organizado, mais efémero ou mais permanente, são uma das principais formas de expressão da consciência crítica das sociedades e da sua capacidade de agirem sobre si próprias. Em diversas épocas e contextos históricos os movimentos sociais foram os principais promotores da mudança social e da ruptura política. Mas as suas capacidades de mobilização dependem sobretudo da visibilidade das iniciativas, pelo que, quer na fase de denúncia dos problemas em causa, quer perante as iniciativas e condições em que decorre a acção, a informação e divulgação por parte da comunicação social podem decidir o seu sucesso.
Pode estabelecer-se uma distinção entre movimentos de "velho"; e de "novo"; tipo, sendo que a ideia de "movimento"; se situa no polo oposto à ideia de ordem ou "instituição";. Enquanto os velhos movimentos, como o movimento operário, pugnavam por uma nova ordem política (o socialismo) os chamados novos movimentos sociais (NMSs), que emergiram nos anos 60 no Ocidente, para além das bandeiras utópicas por que pautaram o seu discurso, tiveram uma incidência no imediato, pressionando os poderes e as instituições existentes, questionando as fronteiras entre o Estado e a sociedade civil. As lutas que conduziram pela defesa da causa ecológica, da paz, dos direitos das mulheres, do respeito pelas minorias, da democratização do ensino, etc., combinaram o radicalismo e por vezes a espectacularidade das acções com o sentido pragmático das metas a atingir e a atenção que prestaram ao papel dos média.
Na era da globalização em que hoje vivermos, os pólos global e local estão estreitamente articulados. Porém, se nos anos 60 e 70 do século passado se lançou o slogan "pensar globalmente, agir localmente";, neste início de milénio, talvez faça mais sentido inverter os termos e dizer que é preciso "pensar localmente e agir globalmente";, pois a fantástica capacidade e rapidez com que a comunicação circula no mundo permite com muito maior eficácia construir redes e estratégias de acção a partir do local mas que rapidamente podem ganhar um impacto global. Os actuais movimentos e ONGs que lutam por uma globalização alternativa e solidária corporizam essas articulações e ajudam a construir novas formas de democracia participativa, de que a democracia representativa pode beneficiar, visto que ambas de complementam.
Neste processo, os "mass media"; ganharam ainda maior relevância, dada a também maior diversidade de meios ao seu dispor. Mas, apesar da crescente importância da Internet, o papel dos jornais permanece decisivo na construção da consciência crítica dos cidadãos, em particular daqueles que se mantêm excluídos do acesso aos novos meios informáticos. Nesse sentido, é inquestionável a importância da imprensa local e regional, dada a proximidade que mantém com as populações e a capacidade para promover uma cidadania activa. O seu contributo será tanto maior quanto mais ela se mostre ao mesmo tempo desperta para os problemas públicos e para o papel dos NMSs no aprofundamento da democracia.
A luta por uma globalização mais humanizada e regulada de acordo com as exigências de justiça social é um requisito urgente para revigorar a democracia e promover o bem-estar social. E da capacidade de conjugar a acção dos média com os movimentos da sociedade civil dependerá, em larga medida, o êxito dessa luta.

 
 
pessoas
Elísio Estanque