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01-02-2001        Visão
Porto Alegre foi uma demonstração eloquente que não existe globalização e sim globalizações. Para além da globalização neoliberal do capitalismo que só aceita as regras que ele próprio impõe, há uma globalização alternativa, a globalização de um desenvolvimento democraticamente sustentável, das solidariedades e das cidadanias, de uma prática ecológica que não destrua o planeta, e de uma sociedade global que só aceite o comércio livre enquanto comércio justo. Este foi o grande mérito de Porto Alegre uma vez que até agora se dizia que os que se opunham às reuniões do Banco Mundial, do FMI, da OMC eram grupos contra a globalização e sem alternativas. Mostrámos aqui que somos a favor da globalização, mas de uma globalização justa que não produza a destruição e miséria para a maioria da população mundial. Quando se verifica que quatro cidadãos americanos têm tanta riqueza quanto o conjunto de 43 países menos desenvolvivos com uma população de 600 milhões de pessoas, não é preciso ser de esquerda para considerar que isto, além de injusto, é absurdo. E é absurdo precisamente porque há alternativas realistas, tanto no plano técnico como no plano político. Entre as que foram aqui apresentadas menciono, a título de exemplo, o perdão da dívida dos países menos desenvolvidos; o imposto Tobin sobre as transacções financeiras de divisas que gerariam 200 biliões de dólares por ano para o desenvolvimento; a democratização do FMI e do BM; a articulação entre os grandes países de desenvolvimento intermédio - Brasil, Índia, África do Sul, etc. - para negociarem em conjunto melhores condições com as instituições multilaterais; a aplicação de boa fé da Convenção da biodiversidade e dos acordos sobre o efeito estufa; a aceitação de parâmetros de qualidade mínima do trabalho usado na produção dos produtos que circulam no mercado mundial. Tudo isto é possível e está ao nosso alcance. Os 4000 delegados que estiveram em Porto Alegre e as centenas de organizações que aqui apresentaram o seu trabalho e as suas iniciativas foram uma demonstração pujante de que as alternativas estão apenas à espera da força política da sociedade civil global para serem postas na agenda política internacional. Foi esta sociedade civil global que teve aqui um auspicioso ponto de partida. Por isso Porto Alegre tem de ser prosseguido e vai ser prosseguido. Está decidido que em 2002 se reunirá de novo e de novo aqui, nesta cidade que se está a transformar na cidade global das alternativas. E tem uma justa aspiração a esse estatuto em vista da portentosa capacidade organizativa que revelou. Claro que o próximo Fórum não será igual ao primeiro, pois aprendemos aqui que há ajustamentos a fazer na articulação entre as temáticas e há ainda que tornar o Fórum mais mundial (por exemplo, os países de língua portuguesa tiveram uma presença modesta). Mas com este começo tão auspicioso, estou certo que se farão todos os acertos para tornar o próximo Fórum uma afirmação ainda mais pujante da globalização alternativa.

 
 
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Boaventura de Sousa Santos