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13-09-2015        Jornal de Notícias

O programa eleitoral da coligação da direita (PSD/CDS) é um vazio total, sustentado em monumentais patranhas e em indicadores manipulados e apresentados numa nuvem cor-de-rosa, que passará progressivamente a escura depois de 4 de outubro.

Passos, Portas e seus pares foram dando como adquirido que a anestesia sobre o povo português está ainda no seu pleno efeito, e passaram a encarar as próximas eleições legislativas como mera formalidade no seu percurso de governação. Este governo, com apoio do Presidente da República, das instituições e políticas da União Europeia (UE), dos mercados e de grandes meios da comunicação social pôde, durante quatro anos, afrontar os portugueses até amesquinhá-los e isolá-los no seu sofrimento.

Será que a sociedade portuguesa consegue ter nestas eleições um “sopro coletivo de vida” que a retire da letargia e a catapulte para um avanço? Bento de Jesus Caraça dizia que isto acontece de tempos a tempos. Há, pois, que trazer para o debate as análises, os argumentos e as propostas que mobilizem os portugueses para o voto consciente, portador de confiança e exigência de efetiva mudança.

O debate entre Passos Coelho e António Costa mostrou lacunas e expôs nuvens que é preciso dissipar: i) os grandes meios de comunicação não estão preparados e/ou interessados em contribuir para uma abordagem objetiva dos problemas, passados e futuros, que os portugueses precisam ver esclarecidos – os três canais de televisão, se quisessem um debate esclarecedor não deixavam de fora temas como a pobreza, as desigualdades, a educação e a cultura, ou a soberania e o contexto europeu e internacional; ii) António Costa esforçando-se positivamente por perspetivar alternativas, apresenta-nos um Partido Socialista com um pé preso no lamaçal e a cabeça ainda sem rasgo e vontade suficientes para construir um impulso de saída; iii) Passos Coelho tem como estratégia eleitoral falar genericamente de tudo, sem se comprometer com nada, e esconder as novas doses de austeridade que pretende aplicar depois de 4 de outubro ou das eleições presidenciais.

A vinda da troica e a formulação do Memorando foi requisitada por uns como um xarope inevitável e por outros como um belo pitéu. Passos Coelho e os partidos da direita estiveram sempre neste segundo grupo. Passos Coelho não apenas reclamou a troica e as políticas de austeridade e empobrecimento que se pré-anunciavam, como fez desse processo um instrumento para se alcandorar ao poder e depois subjugar o país. Hoje a presença do “espantalho” Sócrates no debate das legislativas só se entenderia na discussão de compromissos de combate à corrupção, às promiscuidades e compadrios entre público e privado. Mas, nesse caso, Passos teria de começar por trazer os “espantalhos” Salgados, Macedos, Oliveira e Costa e muitos outros, entre os quais um punhado de figurões do Cavaquismo.

Passos Coelho, impulsionador das mentiras de que tínhamos mais feriados e férias e trabalhávamos menos horas que a média europeia, persiste na patranha de considerar as medidas de “estímulo” à economia, de 2008/2009, como as causas da pretensa bancarrota. Ora, as grandes causas da aceleração do endividamento estiveram nas decisões do Conselho Europeu (deu garantias bancárias sem controle ou regulação), no facto de o Estado Português se ter assumido como fiador, com responsabilidade ilimitada, de uma banca falida, e nos buracos e roubos resultantes de negócios promíscuos e malabarismos públicos e privados. Passos nem no plano pessoal é estranho a isto.

O “estímulo económico” e o reforço da proteção social aos atingidos pelo desemprego e por outros efeitos da crise foram orientação correta, infelizmente passageira, da UE e do Pacto Mundial para o Emprego. Só que, o poder financeiro e económico rapidamente recompôs a sua “lei” com a participação de serventuários como Passos Coelho ou Cavaco Silva.

Para o combate eficaz a estas mentiras, para defesa do nosso futuro próximo e da democracia, quão importante seria que o PS não embarcasse também na patranha de que são “radicais” (com propostas “esquerdizantes”) todos os que, determinadamente, rechaçam as inevitabilidades que a UE e a invocada “realidade” nos vêm impondo!


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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